terça-feira, 17 de agosto de 2010

28% das entidades sociais estão irregulares, diz IBGE


por Luisa Belchior

da Folha de S.Paulo

Quase um terço das entidades de assistência social no Brasil está irregular, revela pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgada ontem, a primeira do instituto a traçar um panorama das atividades de associações sem fins lucrativos no país.
A Constituição considera entidades de assistência social aquelas que prestam atendimento a camadas da população como crianças e adolescentes, idosos, portadores de deficiências, sem fins lucrativos.
Realizada durante o primeiro semestre do ano passado, a Peas 2006 (Pesquisa das Entidades de Assistência Social Privadas sem Fins Lucrativos) constatou também que 35% das entidades do gênero não passam por fiscalização.
A atribuição é dos Conselhos Municipais de Assistência Social. A pesquisa mostra que metade das entidades só são supervisionadas uma vez ao ano. Outras 35%, revela o estudo, não passam por nenhum tipo de fiscalização.
De acordo com a Loas (Lei Orgânica de Assistência Social), em vigor há 14 anos, as entidades de assistência social que tiverem irregularidades na aplicação de recursos têm o registro cancelado. Com isso, não podem oferecer o benefício da dedução no imposto de renda a pessoas físicas e jurídicas que queiram financiá-las.
A Loas determina também que, sem o cadastro do Conselho Municipal de Assistência Social, as entidades não podem exercer qualquer atividade. Na pesquisa, ficou constatado que 28% das associações não possuem esse cadastro.
O estudo identificou 16.089 entidades do gênero em todo o país. Mais da metade delas está no Sudeste -29,6% (cerca de 4.820) só em São Paulo. O Sul tem 22,6% das entidades, o Nordeste, 14,8%, o Centro-Oeste, 7,4%, e o Norte, 3,4%.
“Essa proporção era um pouco esperada porque o Sudeste é a região mais populosa, então, em termos percentuais, demanda mais assistência”, disse André Simões, um dos elaboradores das análises da pesquisa.

Trabalho voluntário

O voluntariado é o pilar do setor, diz a pesquisa. Mais da metade (53,4%) das 519.152 pessoas que trabalham na área são voluntários. Em 30% das entidades, não há uma pessoa com vínculo empregatício. “[Esse dado] pode ajudar a dar mais atenção aos voluntários ou incentivar a profissionalização do setor”, disse Simões.
Os cofres públicos financiam, em uma ou mais atividades, 55,7% das entidades. Destes, o maior financiamento é o de poderes municipais (84,9%).
Do total das entidades, 40,5% recebem verba diretamente do governo federal -uma entidade pode receber recursos das três instâncias.
A principal fonte de financiamento para 59,5% das entidades, contudo, é a iniciativa privada. Os recursos públicos são a maior renda em 32,6% dos casos, e verbas de outros países sustentam 2,1% das entidades.
Com os recursos, as entidades atendem, sobretudo, a jovens de 15 a 24 anos -51,7% das entidades- e em situação de risco social -que detém o foco de 59% dos casos. As pessoas com deficiências são o público alvo de 30% das entidades, e a população de rua, de 16%.
A Peas, encomendada pelo Desenvolvimento Social, chegou às 16.089 entidades a partir da análise do cadastro que o IBGE tem desde 2002.

 
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